segunda-feira, 21 de novembro de 2016

MINHA INÚTIL VIDA  

(16/04/08)


Minha vida foi um engano.
Sem amigo, sem amor, sem verdade.
Uma completa incapacidade    
De dizer... de viver... um engano!

Minha vida deixou pelos anos
Uma história sem muitos amores,
Uma floresta aberta sem flores
Uma ferida sentida, sem planos.

Minha vida sentiu umas dores
Nem profundas, nem velhas, nem tantas.
As palavras nem foram tão santas
E as noites de poucos sabores...

Minha vida passou sem senhores
Mas com alguma injustiça e maldade.      
Não sei se chorei de saudade
Nem sei se havia outras cores.

Minha vida perdeu tantas lutas
Que a guerra não mais adianta
E na terra onde o sonho se planta
Já não dá pra nascer muitas frutas...

Minha vida já quase sem nada
Um apelo de amor não escuta
Minha vida não teve conduta
Que trouxesse valor pela estrada.

Minha vida viveu um estágio
De estar tão mal partilhada
Que acabou sem estar acabada
E soergueu de uma forma tão frágil.

Minha vida saiu de meu barco
E fez de minha arte um plágio
De minha esperança um naufrágio
E do meu sofrimento um marco.

Minha vida doeu sem remédio
Não mais que eu pude aguentar,
Uma lágrima que eu pude chorar,
Um pequeno espaço de tédio...  

Minha vida de tanto sonhar
Despencou do alto do prédio.
E o sonho tão forte foi médio
Pra poder outra vez despertar.

Minha vida partiu sem despedida
E deixou uma voz na garganta
Um suspiro que insiste: “levanta!”
E uma causa já quase perdida.

Minha vida não mais adianta
Se não tenho na causa o apego.
Meu instante de maior sossego
Não é mais o que me agiganta.

Minha vida não teve aconchego
Que fosse uma paz merecida
Foi uma lenda também esquecida
Não um mito romano nem grego.

Minha vida não foi tão vivida
Como a esperança foi tanta,
E o encanto também não encanta
Como isso também não é vida.