sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

INÉDITAS

TODA MÃE (08/05/02)

 A mãe que madruga, que aposta
É a mãe que dormr, que assusta.

A mãe que olha, que gosta
É a mãe que tarda, que custa.

A mãe que perde, que falha
É a mãe que busca, que encontra.

A mãe que cansa, que trabalha
É a mãe que deve, que afronta.

A mãe que ensina, que reprime
É a mãe que acarinha, que mima.

A mãe que alimenta, que redime
É a mãe que sonha, que rima.

A mãe que soluça, que ora
É a mãe que abraça, que acolhe.

A mãe que beija, que chora
É a mãe que aceita, que tolhe.

A mãe que defende, que doa
É a mãe que sente, que chama.

A mãe que absolve, que perdoa
É a mã que transcende, que ama!


POUCAS PALAVRAS (Ponte Nova, 04/02/03)
Sempre que te vejo
Nem tão longe da minha rua
Pergunto-me por que distante
Tão distante estás de mim.

Sempre que te olho
Nem de imaginar te faço perto
Como se quisesse apenas
Admirar teu corpo belo.

Sempre que te vislumbro
Entre tantas de minhas ruas
Nem de longe posso saber
O que pensas de meu reinado.

Sempre que te admiro
E me olhas desafiadora
Nem que eu quisesse
Confirmaria meus propósitos.

Mas se te aproximo
Em horas boas tuas
Tenho a coragem de dizer-te
Coisas que me denunciam.

Porque sempre que te falo
E repondes com teu sorriso
Parece que nos conhecemos
A doces horas de sempre.

E assim passo os dias
A duvidar de teu gosto
Por causa de tuas dúvidas
E de minhas palavras poucas.

Porque se te dissesse tudo
Que corresponde ao que penso
teu julgamento de mim 
Não valeria meu gesto. 


NEGRA (15/01/04)

Essa negritude tão forte
Segue inspirando a fama...
Cada traço perfeito marca
A cor do nosso país.

Não mais é sorte
Quando sorri como dama
E num abraço embarca
Pra ser tão feliz!

A forma carnuda
Que atrai os olhares
Não mais por descaso
Mas por puro desejo,

É a cor que desnuda
Meus antigos pares,
É meu poço mais raso
Da água que almejo.

Se do poeta desdenha
E só olha sem ver
É que está tão soberana
Com tamanha beleza!

Pois não sei a senha
Para dar sem perder,
Pra fazer tão profana
Quem possui a nobreza!

E então vai vivendo
Tão longe e tão nobre
Que a cada olhar
Mas sou seu escravo.

Vai assim se escondendo
Que o fã só descobre
Que o primeiro olhar
Já é mais que oitavo...

E na entrega total,
Na admiração que pratica,
O menino se esconde
Numa louca paixão.

É tão forte e real
Que nada explica
Não se sabe pra onde
Pode ir a razão.


TODAS AS HORAS  (08/02/05)

Todas as horas são revisoras:
Vão revendo as injustiças.
Por vezes são sedutoras
Outas vezes submissas.

Todas as horas são imprescindíveis:
Não destinam nem limitam os fatos.
Por mais que sejamos sensíveis
Seremos também insensatos.

Todas as horas são dolorosas
Se nos dão um minuto a menos.
Sabemos que plantando as rosas
Uns espinhos também colheremos.

Todas as horas são implacáveis:
Não perdoam os nossos anos.
Mesmo que sejamos razoáveis
Não esperam nossos planos...

Todas as horas são contraditórias:
Repetem-se a cada momento!
As mortes e suas histórias
Repetem-se nos nascimentos.

Todas as horas são conhecidas,
São ciclos que se fazem repetir.
As histórias de nossas vidas
Em outras vidas vão existir.

PASSADO PRESENTE (Gabinete do Prefeito,14/02/05)

Um dia a noite passa
Um passado a gente vive.
Às vezes me despedaça
o amor que um dia tive.

Se agora te vejo mais
Dá vontade outra vez
De viver na tua paz
Sem a minha timidez.

Quando vejo-te assim
Tão perto de minhas mãos,
Quase encontro o fim
De meus momentos vãos.

Mas nada do que conheço
Me vale estes instantes
Pois que as horas que mereço
Já não são tão importantes.

Se teus dias de princesa
No passado não foram meus,
Hoje sei com mais certeza
Que meus dias não são teus.

E então eu me pergunto:
Se depois de tantos dias,
se jamis vivemos juntos,
por que esta poesia?